A língua presa, ou anquiloglossia, é quando a membrana que conecta a língua ao assoalho da boca é mais curta do que o normal. Embora essa seja uma condição relativamente comum, especialmente em recém-nascidos, ela pode gerar preocupações para os pais quando afeta a amamentação e o desenvolvimento da fala.
Neste artigo, eu vou discutir um pouco quando considerar a cirurgia para corrigir essa condição.
Quais os sinais em bebês?
Os principais sinais da lingua presa são:
Desconforto ou dor na mãe durante a amamentação: As mães podem sentir desconforto ou dor durante a amamentação devido à dificuldade do bebê em criar uma sucção eficaz.
Dificuldade de amamentação: acontece porque o freio lingual impede o movimento correto da lingua ao sugar e isso pode causar baixo ganho de peso, rachaduras e ferimentos no seio materno.
Deglutição: tambem por causa da dificuldade de movimentação na lingua, crianças com lingua presa podem adquirir habitos que dificultam a mastigação e deglutição e isso pode acarretar em problemas ortodonticos
Problemas de fala: nem todo problema de fala está associado a anquiloglossia mas a pronuncia de alguns fonemas como o `s` e `x` podem ser mais dificeis quando a movimentação da lingua esta comprometida.
A cirugia
Em casos de língua presa, existem dois procedimentos: A frenotomia e a frenectomia.
A frenotomia consiste em cortar o frênulo do bebê, o conhecido “pique”. É realizada nos bebês recém nascidos para auxiliar na amamentação e, na grande parte dos casos, não requer sutura, o bebê é levado em seguida para o peito da mãe.
Já a frenectomia é um procedimento onde o tendão que esta encurtado é cortado e reinserido em uma posição que permita melhor movimentação da língua. Esse é um procedimento delicado e que exige um pós-operatorio com mais cuidados. Normalmente é feito em crianças um pouco maiores e junto com tratamento fonoaudiológico para que haja uma completa reabilitação das funções da lingua.
A decisão de submeter um bebê à cirurgia para corrigir a língua presa deve ser cuidadosamente ponderada com a orientação de uma junta de profissionais de saúde.
Após a triagem neonatal (conhecido como teste da linguinha) ter se tornado obrigatório em todas as maternidades do Brasil desde 2014, o índice de diagnóstico de anquiloglossia aumentou exponencialmente. Muitos pais ficam bastante ansiosos para que a cirurgia seja feita de forma muito precoce. Pois acreditam que a amamentação será comprometida caso o procedimento não seja realizado. No entanto, não existe evidência científica de que a frenotomia lingual realmente permita uma melhor lactância a longo prazo. E essa tem sido a posição de muitas associações de profissionais pediátricos de todas as áreas, incluindo os odontopediatras.
Ainda mais inquietante é o fato de que alguns pais se deixem convencer da utilidade dessa pequena amputação, apesar do recém-nascido parecer perfeitamente capaz de mamar por conta própria.
Quando considerar a cirurgia?
Esse é um tema polêmico, sabia? Como eu disse anteriormente, muitas pessoas acreditam que a cirurgia se trata apenas de um “pique”, ou pequeno corte, mas não é bem assim. A cirurgia para corrigir a língua presa em bebês (a frenotomia) precisa ser muito bem avaliada e diagnosticada porque ela gera desconfortos e continua sendo uma cirurgia com riscos, como hemorragia e anafilaxia pelo uso do anestésico.
Além disso, as evidências recentes mostram que as crianças que são submetidas precocemente ao “pique” muitas vezes têm que repetir o procedimento mais tarde na vida, pois somente essa cirurgia não é suficiente para tratar a verdadeira anquiloglossia (língua presa)!
Muitos profissionais, como eu, e entidades, defendem a ideia de que os pais não precisam ter pressa para lidar com essa questão, a menos que o bebê esteja com dificuldade persistente na amamentação, que é quando ele não consegue se alimentar mesmo após tentativas de correção não invasivas, ou quando se tem impacto severo na fala, se a língua presa estiver causando atrasos significativos, os profissionais que acompanham o bebê podem sim recomendar a cirurgia.
O que fazer se não optar pela cirurgia?
O importante é deixar muito claro que o diagnóstico não deve se basear apenas na triagem neonatal, e sim em um acompanhamento muito próximo de uma equipe multifuncional, como o consultor de amamentação, pediatra, odontopediatra e outros que vão monitorar o desenvolvimento da amamentação e região orofacial do recém nascido. Essa equipe vai levar em consideração o cenário de cada bebê, as diferentes realidades e como proceder da forma mais segura possível para evitar complicações e reduzir riscos.
O alerta aqui desse artigo é esclarecer que a cirurgia de frenotomia não garante que futuramente a criança esteja livre de realizar uma frenectomia, por isso a importância da consciência em expor o bebê a riscos sem necessidade de fato.
A reflexão sobre intervenção precoce pode ajudar a garantir o bem estar do bebêGostou desse conteúdo? Leia também o artigo Primeira Dentição.